“Mas tu viaja sozinha?” “E não tem medo?” “O que teus pais dizem?” “E por que não convidou alguém pra vir contigo?” São algumas das perguntas clássicas (às vezes, recheadas de preconceito e, outras, de admiração) que toda mulher que escolhe viajar sozinha precisa responder no momento em que decide visitar outro lugar sem companhia. Obrigada, machismo nosso de cada dia, por complicar nossa vida nisso também.
Complicada ou não, para mim, viajar sozinha é a melhor experiência que uma mulher pode vivenciar. Tomar decisões sem precisar agradar ninguém, além de nós mesmas e achar soluções para os problemas que se apresentam na estrada são somente dois dos fatores que fazem dessa uma das vivências mais enriquecedoras que poderíamos ter, da qual saímos muito mais confiantes.
Por isso, o tema do segundo post da série 7em500, baseada nas experiências que tive durante a trip de mais de 500 dias por sete países sulamericanos, vai responder a pergunta de uma seguidora do Instagram: “Acha que é mais difícil viajar por ser mulher?“. E março, o mês da mulher, me parece o momento adequado para falar do assunto.
VIAJAR SOZINHA: AS PRECAUÇÕES
Viajar sozinha por Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia não tem mistério. É preciso tomar as mesmas precauções que tomamos praticamente desde que nascemos:
- estar sempre atenta aos arredores;
- demonstrar segurança;
- informar-se sobre locais e horários problemáticos para estar só;
- evitar ostentar objetos de valor;
- não confiar em estranhos de cara.
ignorando as precauções – o assalto
Dicas que, aliás, servem para homens também. Para ilustrar bem como esses cinco pontos são importantes, vou contar a história da tarde em que ignorei quatro deles e fui assaltada – a única situação do tipo durante toda a viagem.
Estava eu, bem bela e boba por estar na Floresta Amazônica, explorando um parque no centro de Tena, no Equador. Depois de me despedir de um espanhol que conheci na entrada do espaço verde, passei a caminhar sozinha pela área com ares de abandono, sem antes ter questionado o quão segura era a região.
Eu estava com minha câmera pendurada no pescoço, olhava para baixo e caminhava devagar. Um passo em falso naquele caminho de concreto aparentemente inacabado era tombo certo. Aproveitando-se da minha solidão e distração (ou extrema concentração nas minhas pisadas), dois rapazes com camisetas no rosto me abordaram, levando meu celular e algo de dinheiro. Curiosamente (ou bondosamente) me deixaram com o cartão de memória e o chip do celular, a câmera, a lente e outros itens de menor valor na minha mochila.
O bom dessa história toda é que, de volta ao hostel onde eu estava hospedada, conheci um menino dos Estados Unidos muito bacana. Ele era meu colega de quarto e perguntou se estava tudo bem. Lhe disse que sim, tirando o fato de eu recém ter sido assaltada.
LEIA SOBRE TENA E PUERTO MISAHUALLÍ
Ele tentou me animar, conversamos bastante e saímos juntos para que eu comprasse um novo celular. Assim começou uma bela amizade que nos levou a fazer um passeio por Puerto Misahuallí no dia seguinte. Até hoje seguimos em contato pela internet.
CONHECENDO DESCONHECIDOS
A questão de não confiar em estranhos de cara vai muito da intuição. O sexto sentido é fundamental para quem busca conectar-se com outros seres humanos – talvez, uma das maiores motivações para viajar sozinha. Um dos meus grandes objetivos da viagem pela América do Sul era reestabelecer um pouco minha fé na humanidade.
Como eu mesma descrevi no projeto da viagem, queria “ficar na casa de estranhos que se tornarão amigos, subir em veículos de desconhecidos que se transformarão em companheiros, fazer passeios com viajantes que virarão parceiros, ter conversas com locais que serão camaradas”. Contudo, é preciso ter cuidado e avaliar bem (mas rapidamente) a situação. Em outros artigos vou falar com mais profundidade sobre carona, Couchsurfing e outras maneiras de hospedar-se em lares de locais.
A VIDA SOCIAL
A solidão é um dos medos para a maioria das pessoas. Não para mim, que simplesmente amo ficar sozinha. Mas eu só estive desacompanhada quando quis nesse quase um ano e meio. Um simples “oi, tudo bem?” abre portas e cria amizades (mesmo que temporárias) em hostels, passeios e bares.
Falando em bar, é sempre importante lembrar daquele velho conselho: não aceite bebidas de gente que você não confia. Também é bom cuidar a quantidade de álcool ingerido quando estamos sozinhas ou na companhia de novos amigos. Mas também não precisa virar santa, né?
VIAJAR SOZINHA: DICAS DE SEGURANÇA
- Celular (GPS e internet): O melhor amigo do homem – e da mulher – do século 21 é o celular. Pelo menos, é o meu. Comprando um chip local em cada país para dispor de conexão 3G (poderia custar de R$ 0 a R$ 20), mais alguns reais para o crédito, podia contar com internet e GPS.
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Meu aplicativos de comunicação eram basicamente o Whatsapp e o Messenger. Para localizar-me, usava o Maps.me (que tem mapas para baixar e usar offline) e o Google Maps (que eu usava quando tinha rede). Ainda tinha outro app cuja funcionalidade me parece importante. Com o Life360, minha mãe (ou qualquer um que eu permitisse) tinha acesso, em tempo real, à minha localização. Uma pequena invasão de privacidade que me tranquilizava no caso de perda do aparelho ou algo pior que prefiro nem pensar.
- Objetos de proteção: Tem gente que se sente mais segura portando facas ou sprays, mas esse não é meu caso. Cheguei a andar com um canivete, mas me dei conta que jamais o usaria para me defender. Uma ideia que me pareceu melhor é ter um spray – um desodorante pequeno serve – ao alcance da mão. Um jato no rosto de um possível agressor pode desarmá-lo (eu, particularmente, nunca usei essa tática, pois não sei se minha reação seria rápida o suficiente e tenho medo de um contra-contra-ataque).
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Enfim, eu não tinha nada disso. Me contentava com minhas precauções e com a sensação de segurança que tinha com o acesso a internet, GPS e ao saber que outra pessoa tinha conhecimento de eu paradeiro. E, claro, as good vibes sempre tentavam atrair as melhores pessoas para perto de mim.
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