Córdoba é a segunda cidade mais importante da Argentina, só fica atrás da capital Buenos Aires. Para conhecê-la melhor, participei dos free walking tours oferecidos pela empresa La Docta. O da manhã percorre o centro histórico. O grupo se encontrou às 11h na Plaza San Martín e foi guiado por Emiliano. Éramos 13 pessoas, e havia gente que não entendia o idioma local, então ele passava as informações tanto em espanhol como em inglês.
A PLAZA SAN MARTÍN
Na praça, Emi contou um pouco sobre a vida do general José de San Martín, o grande herói argentino. Suas estátuas espalhadas pelo país, em geral, apontam para o oeste, onde está a Cordilheira dos Andes. Cruzar a cadeia de montanhas foi fundamental para a libertação da Argentina, do Chile e do Peru. Córdoba foi criada como uma típica cidade espanhola: ao redor da praça estão a catedral e o cabildo.
A igreja foi construída entre 1578 e 1768 e tem três estilos diferentes. As imagens do seu teto foram pintadas em telas que depois foram erguidas, pois o artistas tinha medo de altura. Isso as desclassifica como afrescos. Dentro do templo, há uma imagem do Cura Brochero, o primeiro santo argentino, beatificado em 2013. Ele nasceu na província de Córdoba, que tem uma cidade nomeada em sua homenagem na região de Traslasierra.
Já o cabildo é de 1580 e serviu como casa de governo, mercado de alimentos e de escravos, prisão, e agora serve de centro cultural. Em frente a muitos prédios importantes do município (esses dois são exemplos), há um desenho reproduzindo o edifício. A explicação do criador desse projeto é que as pessoas caminham olhando para o chão, e não apreciando a arquitetura.
O MUSEU E A PLAZOLETA
Entre essas duas construções há uma pequena rua onde se encontra o Museu da Memória, que trata sobre o período da ditadura militar argentina. Ele foi instalado em um centro de detenção clandestino dessa época. Não pudemos entrar, pois ele está em reforma, mas Emiliano nos falou sobre o trabalho das Madres e Abuelas de Mayo. Na fachada da entidade, foram pintadas grandes impressões digitais com os nomes dos cordobeses que foram desaparecidos durante este regime.
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Nesta mesma ruela está a Plazoleta Jerónimo Luis de Cabrera. Ele fundou Córdoba em 1573 e a nomeou assim porque a achava semelhante à localidade espanhola homônima. Suas ordens eram para criar uma cidade na região de Salta, mas ele decidiu seguir mais para o sul. Um ano depois, quando o rei da Espanha soube que Cabrera o havia desobedecido, o mandou matar. Na praça pode-se observar árvores autóctonas, até a de Ceibo, a flor nacional da Argentina.
A PARADA ESTRATÉGICA
Em seguida, a turma fez a parada mais gostosa do passeio: em uma casa de alfajores cordobeses. Que os argentinos são os reis do alfajor, todo mundo sabe, mas que cada província tem um estilo de alfajor diferente pode ser novidade para alguns. Nesse lugar, se oferece uma degustação do doce enquanto o guia fala sobre comidas e bebidas típicas de Córdoba.
LA MUNDIAL E MUSEO DE LAS MUJERES
Outro ponto da caminhada é o edifício La Mundial, o mais estreito da América Latina. Ele tem cerca de cinco metros de profundidade. Isso aconteceu porque, em 1928, a prefeitura queria alargar a avenida em que ele se localiza. Os donos dos terrenos adjacentes a ela teriam de vendê-los aos proprietários de trás, mas o homem que possuía a escritura se negou em fazê-lo. Ao contrário, decidiu erguer ali sua casa na década de 30, onde hoje funcionam escritórios.
Passamos então pelo Museo de las Mujeres. O tour não entra no espaço, mas eu o havia visitado no dia anterior e pude apreciar algumas mostras. As artistas em exposição eram todas, obviamente, mulheres. A entrada é gratuita e vale a visita.
A MANZANA JESUÍTICA
Depois, andamos até outro centro cultural, a Cripta Jesuítica. Feita originalmente no século 18 para ser um lugar de oração, em 1820 foi transformada em cripta para os corpos das vítimas da epidemia de cólera que arrasava a cidade e, anos mais tarde, abandonada. Em 1989, uma empresa de telefonia a descobriu durante uma obra. Hoje, é um museu onde se expõem peças de artistas locais.
Os jesuítas têm grande importância na província. Inclusive o sol que aparece em sua bandeira é dessa ordem religiosa, ao contrário do da bandeira argentina, que é inca. A Manzana Jesuítica de Córdoba foi o maior assentamento católico no continente e a Unesco a catalogou como patrimônio mundial. Nessa área estão alguns prédios construídos por eles antes de terem de abandonar as missões na América em 1767.
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Uma das principais atrações é a igreja Companhia de Jesus. Lá estudou Jorge Mario Bergoglio depois de converter-se de franciscano em jesuíta e antes de tornar-se o Papa Francisco (o primeiro sumo pontífice jesuíta, o primeiro latino-americano e o primeiro não-europeu em séculos). Esse templo foi construído por nativos e por pessoas escravizadas. Os primeiros recebiam pagamento e tinham uma capela exclusiva. Os segundos, obviamente, não receberam nenhuma remuneração e não podiam entrar na igreja.
Na Manzana Jesuítica também está um dos prédios da Universidade Nacional de Córdoba, a mais antiga do país e uma das primeiras da América Latina. Fundada em 1613, cerca de 120 mil alunos estudam nas 15 faculdades da instituição. Por causa da UNC, a cidade de Córdoba é conhecida como “La Docta“, que significa intelectual.
O FIM DO FREE WALKING TOUr CÓRDOBA
A caminhada termina em uma das esquinas mais importantes do município, do Boulevard San Juan com a Avenida Vélez Sarsfield. Nela fica o Patio Olmos, uma antiga escola transformada em shopping. Mais de duas horas depois de termos começado o passeio, nos despedíamos do guia que ainda tinha duas supresas para os turistas. A primeira foi um pirulito com bilhetinho grampeado pedindo para que avaliemos a atividade no Tripadvisor (coisa que acontece em todos os free walking tours, mas achei simpática a ideia do mimo). A segunda foi uma aula rápida para dançar cuarteto, estilo musical muito popular em Córdoba.
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