Esse talvez seja meu post preferido desses quase quatro anos de blog. E são duas as principais razões: 1) é sobre uma visita guiada no Theatro São Pedro, meu teatro favorito no mundo; 2) ele é parte da #oqueportoalegretem, do Coletivo TraveleRS. O grupo de criadores de conteúdo de viagem do Rio Grande do Sul criou essa ação para exaltar as belezas da capital gaúcha, minha cidade natal e município pelo qual sou apaixonada.
A VISITA GUIADA PELO THEATRO SÃO PEDRO
Dei sorte porque justamente no período da ação, no começo de fevereiro, o Theatro São Pedro organizou visitas guiadas gratuitas. Os tours levaram o público pelo prédio do meio do século 19 e pelo complexo Multipalco, audaciosa obra do começo do Século 21.
Todas as 40 vagas dos 10 horários de 2020 esgotaram com antecedência. A maioria dos interessados era de Porto Alegre. Os passeios acontecem nesse período porque é quando a casa de espetáculos está fechada para manutenção. Nessa época não há programação artística.
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E o melhor do passeio acontece justamente por causa da manutenção. O lustre, grande estrela do Theatro São Pedro (além, claro, das estrelas que passam pelo seu palco) está no nível da plateia. Fiquei emocionada ao ver a peça ao meu lado. Há quase 15 anos a vejo no ornado teto do teatro e ter essa joia ao alcance da mão foi arrepiante.
A ENTRADA
O tour começou na entrada do Theatro São Pedro. Os guias se apresentaram e resumiram a história de Porto Alegre e da Praça da Matriz, o largo em frente ao TSP, nos anos que antecederam a inauguração do São Pedro, em 1858. Ele é o segundo teatro mais antigo do Estado, perdendo apenas para o 7 de abril, em Pelotas.
Eles também falaram de Dona Eva. Em 1975 Eva Sopher assumiu a coordenação das obras de recuperação do teatro, que já estava fechado há dois anos. Incansável trabalhadora da cultura, a imigrante alemã foi presidente da Fundação Theatro São Pedro de 1982 até sua morte, em 2018. Mas ela continua presente em todas as apresentações, como era seu costume, em um totem com sua foto e seu crachá.
O FOYER
O teatro foi reinaugurado em 1984 e desde então nunca fechou suas portas, a não ser nos períodos de férias e feriados. Em 1991, o governador recém eleito governador Alceu Collares queria tirar Eva Sopher da presidência da FTSP. A classe artística se uniu e realizou um abraço no Theatro São Pedro. Depois da pressão popular, Dona Eva ficou.
Essas informações foram passadas já no foyer no teatro. Algumas delas foram interrompidas ou adicionadas por uma atriz que interpretava um dos fantasmas da casa (diz a lenda que são vários). Neste segundo andar fica a sacada do TSP, com uma bela vista para a Praça da Matriz – também conhecida como Praça dos Três Poderes (mas cujo nome oficial é Praça Marechal Deodoro) – e seus arredores.
OS CAMARINS
Os visitantes então foram encaminhados para o setor embaixo do palco. Ali fica a entrada dos artistas, além de uma área técnica com monta-cargas, por onde chegam os equipamentos para a realização do espetáculo. O guia também aponta para os dois pianos de cauda da instituição: um Petrof e um Steinway & Sons.
Depois de subir a estreita escadaria em caracol, o público tem acesso aos camarins individuais. Nos pequenos quartos que contam banheiro com chuveiro, cama, uma cadeira, uma bancada e, claro, um grande espelho iluminado, a atriz convidou uma criança que participava do tour para ler um trecho de Hamlet. Além disso, explicou a origem da expressão “merda”, que se deseja a artistas antes de subirem ao palco.
O PALCO, A PLATEIA E O LUSTRE
Dos camarins, os visitantes passam ao backstage com suas belas janelas e, em seguida, ao palco. Passamos ao lado da cortina nobre, cuja franja é original, de 1858. A vista para os 650 lugares vazios entre plateia, camarotes e galeria era linda. Mas a imagem ficava ainda mais especial com o lustre baixo.
A peça de quase 4 metros de comprimento e 600 quilos é descida e subida manualmente uma ou duas vezes por ano. Ela fica baixa por aproximadamente 15 dias para a limpeza das 30 mil peças de cristal e troca das 96 lâmpadas.
Os outros 24 lustres espalhados pela instituição são versões menores do principal. Essa obra magnífica é uma réplica da original doada pelo governo francês, que sumiu antes da reforma. A pintura do teto, que representa a flora e a fauna do Rio Grande do Sul, também é uma tentativa de aproximação dos desenhos antigos.
A estampa floral das poltronas foi uma sugestão de Jô Soares à Dona Eva. A escolha desse padrão foi para das uma ideia de volume na plateia vista de cima do palco. Antes da última reforma, seu interior era bem diferente. Havia um corredor no centro da plateia e o interior chegou a ser com paredes rosa e cadeiras verdes.
Agora, o Theatro São Pedro é tombado como patrimônio histórico municipal, estadual e nacional. Sua estrutura não pode ser alterada. Ele é uma fundação do Estado do Rio Grande do Sul. Aproximadamente 60 funcionários trabalham lá.
O MULTIPALCO
O projeto do Multipalco começou para abrigar o setor administrativo do teatro, assim como da Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro e da Associação Amigos do Theatro São Pedro. Ambas organizações foram criadas em 1985. A ideia da construção se transformou em um complexo cultural e que está cerca de 80% concluído.
O novo espaço conta com 18 mil m². Os escritórios, algumas salas e o foyer já estão prontos. Projetos sociais e artísticos usam o local para atividades. Ainda faltam o teatro oficina e o teatro principal, que terá a mesma capacidade do Theatro São Pedro. A casa de 1858 aguarda uma renovação, pois é um dos poucos teatros grandes do Brasil a não ter uma grande reforma há quase 40 anos.
O MEMORIAL
No Memorial do Theatro São Pedro há uma exposição sobre a história do TSP. Ela foi inaugurada em 2008 e está dividida em quatro atos. Ela pode ser visitada de terças a sábados, das 15h às 18h, gratuitamente. O Primeiro Ato apresenta os anos iniciais do teatro. O Segundo Ato é sobre quando a casa ficou fechada. O Terceiro exibe a reinauguração. O Quarto fala do período após a permanência de Eva Sopher no cargo de presidente da FTSP.
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