A ideia original era ir para Uruguaiana de moto. Em poucos segundos, ela mudou. Já que viajaria mais de 630 quilômetros, por que não estender um pouco mais e cruzar para a Argentina, conquistando o primeiro país estrangeiro com a Serena, minha Honda XRE 190? E, assim, eu e duas amigas fomos parar em Yapeyú.
A ECOLHA POR YAPEYÚ
Procurei no Maps lugares para acampar. Paso de los Libres tem fama de perigosa, como toda cidade fronteiriça, então busquei outros povoados na beira do Rio Uruguai. Eu já havia dormido uma noite em Monte Caseros, o primeiro local com camping ao sul, a uns 115 quilômetros da ponte internacional. A opção ao norte era Yapeyú, a 75 quilômetros da fronteira.
LEIA AQUI SOBRE OS SETE POVOS DAS MISSÕES NO BRASIL
Joguei no Google o nome do município da província de Corrientes e duas informações me fizeram bater o martelo por esse destino. Além de ser um dos 15 povos das missões da Argentina, é o berço do mais importante prócer argentino.
YAPEYÚ E SAN MARTÍN
José Francisco de San Martín y Matorras, libertador da Argentina, do Chile e do Peru, nasceu em Yapeyú em 25 de fevereiro de 1778. Em homenagem ao general, praças, avenidas, ruas e monumentos foram batizados com seu nome, especialmente em seu país natal.
A casa em que ele veio ao mundo ficava em frente à praça principal da cidade, a Plaza de Armas, também conhecida como (surpresa!) Plaza San Martín. Seus pais, os espanholes Gregoria Matorras e Don Juan de San Martín, viviam ali desde 1774, quando o patriarca assumiu o cargo de Tenente Governador das Missões Guaranis do Vice Reino do Rio da Prata.
As ruínas do imóvel, que podem ser visitadas gratuitamente, foram protegidas por um templete em 1938. Elas são monitoradas por um membro do Regimento de Granaderos a Caballo. Essa unidade militar foi criada precisamente por San Martín em 1812, durante as batalhas pela independência da Argentina. A unidade se separou em 1926, após a conquista da liberdade. Em 1903, o Regimento de Granadeiros Montados foi reestruturado e hoje faz a guarda presidencial e funções protocolares.
Depois das 18h, é possível ver o solitário soldado cavalgando tranquilamente pela avenida principal de volta para o quartel. A sede do Regimento fica nos limites da zona urbana do pequeno município de 3 mil habitantes. O museu sanmartiniano fica dentro de suas instalações. Ele expõe objetos que informam sobre o passado da cidade, o processo de independência e a história do libertador.
CAMPING E RIO URUGUAI
Eu queria repetir a deliciosa experiência de acampar na beira do Rio Uruguai, que separa a Argentina do Brasil. O camping municipal de Yapeyú foi o lugar ideal, a uma quadra do Regimento. Vi o nascer do sol sobre o curso d’água de dentro da barraca e à noite passeei por suas margens para observar a lua.
Consegui que um amigo argentino ligasse e me passasse as informações: o preço é de 150 pesos (uns R$ 12) por moto, não importa se com uma ou duas pessoas. O camping estava vazio, então preferimos deixar as motos perto da recepção, em uma área coberta. Lá também usávamos a mesa para preparar algumas refeições e o clássico drink argentino fernet con coca.
As instalações contam banheiros, chuveiros com água quente, luz – o que me incomodou um pouco, gosto de áreas mais escuras para olhar as estrelas – tomadas e churrasqueiras (parrilas, na verdade). Havia galhos em abundância no terreno para fazer fogo. O responsáveis são Soledad Rodríguez (O3772 15 633274) e Marcos Corrales (03772 49 3013).
LA CRUZ E PESOS ARGENTINOS
Com a crise econômica na Argentina, algumas casas de câmbio no Brasil estão com falta de pesos. Por isso – e pelo pouco tempo de planejamento da viagem – não conseguimos trocar dinheiro em Porto Alegre. Em Paso de los Libres, na fronteira, um senhor nos abordou oferecendo dinheiro, mas ficamos receosas de serem cédulas falsas e passamos.
Em Yapeyú, não encontramos lugares para comprar pesos. Nos sugeriram ir a La Cruz, um município um pouco maior, com 9 mil habitantes. Esta é outra cidade missioneira e fica a uns 40 quilômetros ao norte de onde estávamos.
Não tivemos sucesso em fazer câmbio, pois era sábado e ainda chegamos pelas 14h, justamente a hora da siesta, pausa pós-almoço que todos no interior do país respeitam. De todos modos, fizemos um pouco de turismo por lá. Andamos pela Plaza de Armas e vimos as ruínas da redução jesuíta guarani. Dali pegamos o Camino de la Misión, um agradável passeio de grama ligando as duas praças principais.
MOTO E ARGENTINA
A ida e a volta foram cansativas, pois passamos o dia inteiro viajando para percorrer os 710 quilômetros que separam Porto Alegre de Yapeyú. Saímos às 6h de casa e chegamos pelas 18h no camping. Fizemos quatro paradas para abastecer e mais uma para os trâmites de imigração.
O caminho foi fácil. Depois da Ponte do Guaíba, são aproximadamente 15 quilômetros pela BR-116/BR-290. Passando Eldorado do Sul, é preciso dobrar à direita na BR-290 e permanecer nela por uns 625 quilômetros até Uruguaiana.
ASSISTA AO VÍDEO DESSA VIAGEM:
Depois de chegar à cidade, não estávamos muito seguras por qual caminho seguir, mas logo encontramos a ponte internacional. O asfalto nela, e em boa parte da via, não está nas melhores condições. Passada a ponte, fizemos o processo de entrada na Argentina.
Mostramos o documento da moto e a carta-verde (que custou uns R$ 42) para um oficial, que nos indicou o local para estacionar e fazer o processo de imigração. Apresentei o passaporte e minha amiga, a carteira de identidade emitida há menos de 10 anos e tivemos nossos ingressos autorizados.
No posto de gasolina mais próximo, encontramos uma amiga que vinha desde Rosario, na Argentina, e juntas fizemos os mais ou menos 10 quilômetros pela Ruta Nacional 117, dobramos à direita para os quase 60 quilômetros na RN 14, onde entramos à direita na entrada de Yapeyú e percorremos os últimos seis na estrada de acesso ao centro da cidade. Somente perto do camping pegamos algo de chão batido.
A PERFORMANCE E OS GASTOS
Antes de sair de Porto Alegre, passei em uma concessionária da Honda para fazer a revisão dos 21 itens. Acabei trocando o óleo e gastei R$ 30. Seriam aproximadamente 1500 quilômetros de estrada entre ida e volta e, mesmo que o manual recomende trocas a cada 6 mil, preferi pecar pelo excesso.
Nossa velocidade cruzeiro ficou ao redor dos 105 km/h. Minha amiga, mais experiente, ia na na frente em uma Harley Davidson Road King Police 1700cc. Ela ultrapassava os longos caminhões – comuns na BR-290 – sem esforço. Eu, em geral, preferia não acompanhá-la e esperar oportunidades melhores para passar na frente dos veículos maiores e mais lentos.
VEJA TODOS OS POSTS SOBRE VIAGEM EM MOTO
O consumo médio dessa viagem ficou ao redor dos 33 km/l – bem abaixo do que a Serena faz na cidade, que fica ao redor dos 42 km/l. No total, gastei R$ 230 em gasolina durante essa trip. Em comida, pagamos uns R$ 60.
Combustível é algo que se deve prestar atenção sempre, especialmente nesta região da Argentina. Os postos não são tão frequentes como se gostaria e o preço é alto. R$ 4,58, R$ 4,75, R$ 4,69 e R$ 4,59 foram os preços pagos pelo litro no Rio Grande do Sul. Em Yapeyú, o valor era de AR 56,20 (uns R$ 4,20).
CURTA A PÁGINA DO ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO FACEBOOK
SIGA O ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO INSTAGRAM
ACOMPANHE O ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO TWITTER
MAPA: