A Avenida de Mayo (Avenida de Maio) é a avenida mais antiga de Buenos Aires. Uma opção para quem quer saber mais sobre sua história (e também do município e do país) é o Free Walking Tour Centro oferecido pela Buenos Aires Free Walks.
Ele sai às 15h do Congresso Nacional e chega pelas 17h30min na Plaza de Mayo (Praça de Maio), recorrendo toda a rua. A atividade não tem preço fixo, pois funciona à base de gorjeta (“propina”, no idioma local). Ela é realizada tanto em inglês como em espanhol.
O FREE WALKING TOUR CENTRO
Acompanhei o grupo de 15 pessoas do Free Walking Tour Centro guiado por Victoria, que dava explicações em inglês. Ela contou que Argentina significa “feito de prata”. As pessoas nascidas na capital da nação são chamadas de “porteñas” em função do porto. Porto esse que tem a ver com a segunda fundação da cidade. A primeira em 1536, não vingou, e a segunda fundação aconteceu em 1580, pois os espanhóis precisavam de um porto na colônia.
Buenos Aires não foi uma cidade muito importante para a colônia espanhola, assim que há pouca arquitetura daquele tempo. Além disso, depois da independência, em 1816, o que os argentinos menos queriam eram lembranças do tempo em que pertenciam à coroa. Depois de separar-se da Espanha, houve guerra civil no país por cerca de quatro décadas. Até que, em 1862, o conflito terminou e um congresso se instalou na Plaza de Mayo.
O CONGRESSO E A PRAÇA
Os congressistas se reuniam lá até 1906, quando foi inaugurado o atual prédio do Congresso Nacional – no portão, há um círculo com o emblema da Argentina rodeado com os de todas as províncias do país, representando união nacional.
INCLUA BUENOS AIRES NO SEU ROTEIRO DE MOCHILÃO PELA AMÉRICA DO SUL COM AS DICAS DO BLOG FOCO NO MUNDO
Sua construção começou em 1897 e terminou somente 40 anos depois de que começou a funcionar. Há quem diga que ele só foi finalizado em 2014, quando estátuas originais voltaram ao seus lugares. Elas foram colocadas e logo enviadas à província de Jujuy, pois mostravam figuras de mulheres nuas, imagens impróprias para a época.
Na praça em frente ao Congresso há alguns monumentos interessantes. A escultura Nação Argentina, de 1914, representa a pátria. É uma mulher segurando um instrumento de agricultura, setor fundamental para o desenvolvimento do país e da cidade na segunda metade do século 19.
O Marco Zero também está localizado nesse largo. A ainda uma outra obra, essa mais conhecida. Uma das peças originais de O Pensador de Rodin foi instalada ali. O artista inspirou-se na Divina Comédia de Dante Alighieri para produzir a imagem.
O PALÁCIO BAROLO
Há ainda outro ponto ligado ao romance nessa via. O Palácio Barolo (“irmão” do Palácio Salvo, em Montevidéu), tem 100 metros de altura e chegou a ser o mais alto do país. O livro e o prédio têm três partes – inferno, purgatório e céu são representados pelo subsolo, pelos 14 andares e pela torre, respectivamente. No último piso há um observatório da cidade. A visita custa 250 pesos (cerca de R$ 50).
A 9 DE JULIO
A turma do Free Walking Tour Centro faz um desvio da Avenida de Mayo e chega à Avenida 9 de Julio. Nela está o grande símbolo da cidade, o obelisco. Concebido em 1936, ele mede 67,5 metros. O boulevard foi inaugurado um ano depois e seu nome celebra o dia da independência argentina.
Seus 140 metros de largura a consagraram como a avenida mais larga do mundo até a abertura do Eixo Monumental, em Brasília. Na 9 de Julio está uma das construções mais emblemáticas da cidade: o Edifício MOP (Ministério de Obras Públicas), também conhecido como “Edifício Evita“.
Sede do Ministério de Saúde e Desenvolvimento Social, o imóvel tem, desde 2011, imagens de Eva Perón (por isso, o apelido) nas fachadas norte e sul. Na norte, a mais rica, Evita aparece discursando contra a elite. Na sul, a mais pobre, ela está sorrindo.
VEJA O VÍDEO DE UM SHOW DE TANGO EM SAN TELMO
Nessa etapa do Free Walking Tour Centro, a guia faz um resumo da política do país dos anos 50 até a década de 80. Ela fala sobre os períodos de ditadura militar, sobre as presidências de Juan Domingo Perón e Isabelita Perón, sobre o peronismo. Claro, ela ainda conta um pouco sobre a vida e a morte de Evita, um dos grandes personagens da história argentina.
CAFÉ TORTONI E LA PRENSA
A próxima parada é no Café Tortoni, estabelecimento icônico na cidade que já foi visitado por Jorge Luis Borges, Carlos Gardel e Albert Einstein. Depois o pessoal observa o prédio do antigo jornal La Prensa. Hoje ele abriga o Ministério da Cultura municipal, que oferece visitas pelo imóvel.
Erguido em 1889, ainda pode-se perceber que o local era a redação de um periódico. Na parte externa da estrutura há uma águia, que representa o jornalismo, e uma estátua segurando papel e lâmpada, que simbolizam a verdade e a liberdade de imprensa.
A PLAZA DE MAYO
O Free Walking Tour Centro chega então à etapa final: a Plaza de Mayo. Ao seu redor estão edifícios importantes. O cabildo foi reconstruído em 1941 simulando o estilo colonial. Na época, ele tinha 11 arcos, e não cinco como agora. Nesse lugar, em maio de 1810, começou a revolução que culminou na independência do país.
Aqui também está localizada a Catedral Metropolitana de Buenos Aires, antigo local de trabalho do bispo Jorge Bergoglio, Papa Francisco. Há um museu em sua homenagem. José de San Martín, um dos heróis da independência, é uma das personalidades enterradas na igreja (na verdade, um anexo foi criado para ser seu espaço de descanso, pois era maçom e o clero não permitiu que seu corpo ficasse dentro do templo). Uma chama na frente da catedral fica acesa em sua memória.
AS MÃES E AS AVÓS DA PRAÇA DE MAIO
No meio da Plaza de Mayo está o primeiro monumento da cidade, a Piramide de Mayo, instalada em 1811. Em 1977, esse ponto foi palco da criação do movimento Madres de la Plaza de Mayo (Mães da Praça de Maio). Aconteceu durante a última ditadura militar argentina e o presidente era Jorge Rafael Videla.
Mulheres usando lenços brancos na cabeça – representando as fraldas de seus filhos – encontraram-se no largo, que fica em frente à Casa Rosada – sede do poder executivo – na tentativa de encontrarem-se com o general que governava o país. Elas queriam respostas sobre o paradeiro de seus familiares (30 mil pessoas desapareceram nos sete anos do regime). Um policial as viu reunidas e as mandou circular.
A partir desse momento, elas passaram a caminhar ao redor da pirâmide todas as quintas-feiras (e ainda o fazem hoje), sem conversar, para chamar a atenção das autoridades. Esses protestos deram origem a uma outra organização, as Abuelas de la Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio).
Elas buscam descendentes das vítimas da ditadura. Os militares não matavam grávidas. Eles esperavam o parto para, depois, assassinarem as mães e enviarem as crianças a outras famílias. Estima-se que existam 400 pessoas nascidas naquela época vivendo com identidade falsa. Com o trabalho das Abuelas, 121 delas já apareceram e supõe-se que mais serão encontradas ao longo do tempo.
A CASA ROSADA
O Free Walking Tour Centro termina com informações sobre a Casa Rosada. Desde os tempos de colônia havia um forte nesse local, que ficava na beira do Río La Plata, posteriormente aterrado nessas imediações. Em 1884, os dois prédios que existiam (um era a casa do governo e o outro pertencia aos correios) foram unidos. A cor característica era comum na época, pois derivava de uma mistura feita com sangue de vaca que impermeabilizava a estrutura.
Quando estourou a crise de 2001, não havia nem portões em frente ao palácio. A segurança foi aumentando na medida em que cresceu o número de protestos e, há cinco anos, foram instaladas barricadas permanentes em frente à ao prédio. Antes desta explicação sobre o lugar, meu grupo do Free Walking Tour Centro teve a sorte de cruzar com um contingente do Ejercito Granadero, responsável pela guarda presidencial.
CURTA A PÁGINA DO ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO FACEBOOK
SIGA O ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO INSTAGRAM
ACOMPANHE O ME LEVA EMBORA ESTRADA AFORA NO TWITTER
MAPA: