A viagem para São Luiz Gonzaga tinha três objetivos principais: 1º – Conhecer lugares bonitos; 2º – (Re)aprender a História das missões jesuíticas de catequização dos índios Guarani; 3º – Assistir ao show do Nenhum de Nós com amigas. Felizmente, os três foram cumpridos. Os famosos Sete Povos das Missões correspondem, hoje, a seis cidades.
OS SETE POVOS DAS MISSÕES
Em São Luiz Gonzaga ficavam as reduções São Lourenço Mártir e São Luiz Gonzaga. No município de São Nicolau estava a redução São Nicolau do Piratini. Em Entre-Ijuís localizava-se a São João Batista. Em Santo Ângelo, havia a redução Santo Ângelo Custódio. Na atual São Miguel das Missões, encontrava-se a redução São Miguel Arcanjo. E em São Borja, situava-se a São Francisco de Borja. Todos esses locais estavam no nosso caminho, com exceção de São Borja. São Miguel também não visitamos, pois já conhecíamos.
SÃO LUIZ GONZAGA
Já não há vestígios da redução de São Luiz, mas a cidade oferece outras opções aos visitantes. A Praça da Matriz é convidativa para dar uma volta. Nos bancos, estão inscritas mensagens e informações sobre a cidade. Ao redor dela, estão a igreja e a prefeitura, ambas com belas construções. Na frente da prefeitura, há um monumento em homenagem ao índio Sepé Tiaraju, nascido na redução local e um dos líderes da Guerra Guaranítica. Há mais uma estátua na cidade, em um dos trevos de acesso, a do poeta e payador Jayme Caetano Braun, natural de Timbaúva, antigo distrito do município. Por causa dele e de outros missioneiros, São Luiz Gonzaga foi declarada a Capital Estadual da Música Missioneira.
Outro lugar conhecido é a igreja de pedra que abriga a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. A gruta foi construída na parte mais alta da cidade após a promessa de senhoras que temiam um confronto sangrento entre integrantes da Coluna Prestes e de Forças Legalistas. Como o combate não aconteceu, a construção foi erguida dois anos depois, em 1926.
TENSÃO NA ESTRADA
Após conhecer as atrações principais da parte central da cidade, avançamos os limites do município para visitar um dos sítios arqueológicos da região. O GPS sugeriu o caminho mais curto entre São Luiz Gonzaga e São Nicolau, por uma estrada de chão batido. Não sabíamos que havia outra opção e encaramos o trajeto. O problema é que, além de passar por uma ponte extremamente duvidosa, a chuva fez com que a pista virasse lama (e eu não tenho um 4×4). Foram 16 quilômetros de muita, mas muita tensão. Um dos momentos mais felizes da viagem foi encontrar novamente uma rodovia asfaltada e sair dessa encrenca sãs e salvas.
SÃO NICOLAU
São Nicolau foi a primeira Redução Jesuítica da Companhia de Jesus, fundada em 1626, e refundada em 1687 durante o período dos Sete Povos das Missões. As ruínas, parte do Patrimônio Nacional, ficam no meio da cidade. Como não é uma área cercada, a visita pode ser feita a qualquer hora. Restaram partes do piso original, do cabildo, da igreja, da adega e do sistema de esgoto. Em um imóvel perto dali ficam expostos objetos encontrados durante as escavações arqueológicas e informações sobre o local.
PASSADO E PRESENTE
Apesar da beleza e atual paz do lugar, é impossível não imaginar as atrocidades que aconteciam ali durante a catequização dos índios. Ficava pensando quão diferente seria nossa vida, caso a igreja não houvesse enfiado a cultura ocidental e a religião católica goela abaixo dos “selvagens” e o quanto perdemos durante este processo.
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Enquanto eu refletia sobre o passado, em uma conversa pela internet, minha amiga Luiza Costa Gava, historiadora e turismóloga, me apontava um problema do presente. Os indígenas quase não se beneficiam com a renda do turismo da região. Seguem à margem, vendendo artesanatos, sem uma real participação no planejamento e nas políticas de exploração da rica história local. Percebi que os únicos indígenas que encontrei durante toda a viagem estavam na porta de um supermercado no centro de São Luiz Gonzaga, vendendo cestas de Páscoa simples feitas por eles.
Descubra o roteiro para conhecer os Sete Povos das Missões
A conclusão que chegamos é que esse é mais um lugar onde a história é contada de maneira eurocêntrica e a partir da percepção dos brancos. Isso também fica claro no material de divulgação do turismo nas Missões, que exalta os feitos dos “missoneiros, herdeiros dos valentes desbravadores, os padres jesuítas”, como se lê em uma revista.
A CASA DE PEDRA E O SOBRADO SILVA
São Nicolau tem duas obras construídas com pedras da redução tombadas como Patrimônio Histórico e Cultural do RS. Uma delas é a Casa de Pedra, um pequeno imóvel em frente ao sítio histórico. A outra é o Sobrado da Família Silva. O prédio de 1903 pertenceu ao filho de açorianos Inocêncio Silva, Coronel da Guarda Nacional. A propriedade está parcialmente destruída, mas ainda é possível visitar a parte interna e apreciar a arquitetura. O espaço também tem importância histórica, já que foi sede de reuniões que culminaram com a Coluna Prestes.
Ao sair do Sobrado, a angústia de ter de pegar uma estrada desconhecida na volta – juramos que não retornaríamos pelo mesmo caminho – veio à tona. Mas o trajeto foi bem mais tranquilo. O percurso aumentou apenas dois quilômetros. A via estava em obras e muito esburacada, mas tinha asfalto e era só isso que importava. Assim chegamos, inteiras, de volta a São Luiz Gonzaga.
ASSISTA AO VÍDEO DAS MISSÕES:
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MAPA:
Parabéns pelo trabalho! Sou sãonicolauense e gostaria de ver mais publicações sobre a região.
Que legal, Roni! Amei a região, pretendo voltar para São Nicolau (preferencialmente sem chuva… hehe) em breve!
Parabéns, sou filha desta terra missioneira e fico feliz de saber q tem alguén que se interessa pela historia .
Lucia, a história dessa região é muito interessante! Temos que explorá-la mais! 🙂